O comportamento do consumidor e a necessidade de ostentar

Trabalhar na área comercial é bastante complexo, pois não basta entender e conhecer de produtos ou mesmo mercados, é exigido também conhecimentos em administração, contabilidade, pessoas, marketing e se não bastasse, também de psicologia para poder compreender e melhor interagir com nossos clientes.

Provavelmente seja o maior dos desafios, pois cada ser humano tem dentro de si uma gama de conhecimentos e experiências que dão a ela juízos de valor que promovem decisões assertivas, mas também errôneas.

Se reunirmos um grupo de dez pessoas e falarmos sobre diversos assuntos, fazendo inclusive enquetes de preferências, perceberemos como por exemplo, ao pedirmos quem gosta de cebola na manteiga, uns dois dirão que amam, outros três dirão que até comem e o restante afirmará que odeia ela preparada de qualquer forma. Ainda se perguntarmos sobre cores preferidas, teremos uma variedade de escolhas.

O por que disto? Mesmo antes de nascermos recebemos informações neurais decorrentes das experiências positivas ou negativas vividas por nossas mães, as quais nos transmitem mesmo contra sua vontade, que posteriormente chamaremos de traumas. Ao nascermos e termos contato com o mundo externo passamos a ser bombardeados por informações de todas as ordens. Começamos então a alimentar nosso HD cerebral de dados e informações que começam um processo de análises críticas e decisórias sobre tudo. Passamos então a receber outras informações da sociedade que por vezes confrontam-se com o que já aceitamos e acreditamos.

No embalo, em nossa adolescência iniciamos a interatividade e busca por integração em grupos que passam a ser também nossas referências. E nesse momento  pode ser que a cor branca, que era a que mais gostávamos por causa de nossos pais e avôs, é substituída pela cor preta, pois nossos colegas vestem-se totalmente de preto.

Daí suponhamos que você fez estudos de mercado e percebeu um potencial enorme para abrir uma loja de roupas e acessórios branco e preto, decorrente da ausência de lojas especializadas e pelo número de clientes não atendidos. Logo depois que você abre, uma emissora de televisão faz algumas matérias denegrindo as cores branca e preta para confecções. Esperam mais um pouco e lançam uma novela estilo country, fazem um programa country, colocam musicais country, enfim, tudo vira moda country. O que vai acontecer com sua empresa?

O ser humano é altamente influenciável. Isto se deve ao fato de ter uma enorme necessidade de ser aceito dentro de seus grupos de referência ou na sociedade.

Somos influenciados e até cobrados em diversos campos do comportamento, tais como: religioso, formação escolar, etnia, uso ou consumo de determinadas bebidas, música, sexualidade, trabalho, moda e etc.

Mas o mais preocupante de tudo, é termos a certeza de que existem grandes interesses econômicos em qualquer movimento de mudança de comportamento. Isto é muito sério, pois uma única mudança gerará milhões ou bilhões de reais em receita (faturamento) para os grupos de interesse. Exemplificando: se houver uma onda no consumo de gengibre em pó para determinada solução em saúde, automaticamente no dia seguinte todas as empresas que revendem este tipo de produto receberão uma avalanche de pessoas em busca do produto.  Cada vez que vejo uma notícia ou matéria jornalística sobre algo, começo a me questionar, será que tem alguém com algum interesse maior por trás do assunto?

Neste momento é perceptível a influência na aplicação de tatuagens pelo corpo de uma maneira desenfreada. Vemos pessoas famosas ou bem conhecidas nas áreas de esporte ou artes, a todo instante exibindo tatuagens por seus corpos, sejam nas novelas, nos filmes ou em apresentações esportivas. Influenciando principalmente jovens, na busca da “personalização” ou mesmo personificação. Não que eu tenha algo contra. Mas ao mesmo tempo não assisto a nenhuma matéria de cunho informativo ou mesmo orientativo sobre a sua aplicação. Junto a isto me vem à mente que até seja possível que alguma empresa tenha algum produto “milagroso” para que pessoas que se frustram ou se arrependam de tê-la feito possam remover de forma rápida e indolor. Divagação, imaginação ou ficção científica?

Não sei, fica meu questionamento e ao mesmo tempo preocupação por não ver propostas de consumo mais assertivas e ao mesmo tempo mais positivas para conosco, participantes de uma sociedade com movimentos consumistas sem limites conscientes sobre o amanhã.

Algo que sempre deixa os estudiosos da área céticos, é o fato de que, de forma geral o ser humano quer ser diferente dos demais, buscando uma personalidade, mas ao mesmo tempo procura estar e ser similar aos outros quando estão em eventos e encontros sociais, para ser aceito.  E neste campo encontramos uma grande disparidade, em que os homens procuram até se vestirem de forma muito parecida, e se algum deles vier vestido de maneira diferente, é motivo de brincadeiras entre os demais colegas.  Já as mulheres, procuram vestir-se de forma diferente para chamar a atenção e os olhares sobre sua imagem, e se por coincidência houver outra vestida de forma muito parecida, é motivo de desprezo, a ponto de uma delas de repente ter que se retirar do evento. Dá para entender o ser humano? Na verdade, sim.

O difícil é explicar de maneira sucinta toda a sua complexidade. E na atual conjuntura nos vemos envoltos nas questões de escolha de gênero, que nos deixa com mais dúvidas ainda em como desenvolver determinadas estratégias de mercado. 

Outra variável a levar em consideração é o tempo que cada um leva para determinar suas escolhas. Homens entram numa loja, pedem exatamente o que querem e solicitam para ver as variações de cores, compram mais de uma peça, no fim gastam entre 15 a 20 minutos desde a sua entrada. Por outro lado, muitas mulheres buscam em diversas empresas do segmento o que querem, ampliam seu leque de opções, e acabam deixando para voltar no dia seguinte, até comprar apenas uma peça do que imaginava, gasta em torno de 6 horas.  Não encarem como uma crítica ou brincadeira, mas como uma forma divertida de traçar as diferenças de comportamento.

Aspecto interessante também, são os valores que as pessoas atribuem para produtos e serviços. Para um homem o corte de cabelo deve estar entre R$ 15 e R$ 40,00, já para as mulheres não se tem este limite de valores, pois o maior valor é o atingimento de um sonho visual a ser percebido por todos que estiverem ao seu redor.

Um mundo de ostentação

Uma realidade incontestável é a ostentação que todo mundo quer demonstrar atualmente.  Até a década de 60 as pessoas de forma geral eram muito simples, não existiam tantas estratégias em comunicação e o marketing nem era visto como uma atividade voltada à conquista de clientes.  Era um momento diferente da história, com pouca concorrência, mercados de exportação e importação ainda em desenvolvimento, viagens ao exterior era somente para pessoas com excelente condição financeira.  Enfim, eram tempos de outras expectativas e necessidades.  A convivência social se resumia basicamente em dois momentos comuns: encontros religiosos e bailes.

Vindo para o momento atual, encontramos um cenário bem diferente, onde o fato da facilidade de encontrar tudo pronto e com menores custos de produção, facilitou o consumismo, mas também a busca pela diferenciação social estimulada pelas ofertas em marcas exclusivas ou que tenham produtos diferenciados ou de alto valor agregado. Analisando a classe social estratificada sempre encontraremos pessoas que de alguma forma querem pertencer à próxima classe social superior. Este comportamento permite que empresas desenvolvam estratégias em comunicação incentivando este consumo para satisfazer os desejos pessoais. A consequência é a compra de produtos com marcas que sejam percebidas como fator de sucesso pessoal, que vão desde os calçados, confecções, armações de óculos, móveis, automóveis, computadores, canetas, raça de animais, relógios e quantidade de seguidores nas redes sociais.

Enfim, boa parte das pessoas se desdobram de todas as formas para ostentar um estilo de vida que por vezes não lhes pertence.  No passado a orientação era economize para conquistar, e hoje é compre, mostre e depois pague. Por consequência os níveis de endividamento e inadimplência são imensos. Mas, viva o consumismo.